* por Mario Sergio Cortella
“Uma das coisas que mais me entristece hoje é ver uma casa infeliz, e uma casa infeliz é aquela que se entra está tudo arrumado. É uma casa sem uso. Você vai à sala e as almofadas estão no lugar, como se a revista caras fosse entrar para fotografar, uma casa que não tem nada fora do lugar é uma casa morta.
Onde há vida, há perturbação da ordem. Aliás, a paz não é a paz dos cemitérios, e a vida não é a do congelamento da criogenia. Vida, é vibração, vibração é movimento molecular e nessa hora, a casa em ordem, é uma casa triste, é a casa que não se vive mais nela.
Quando eu era criança […] a minha festa de aniversário durava quinze dias. A minha e a de qualquer pessoa, porque era uma semana para preparar a festa. Era a família fazendo docinho, enrolando brigadeiro, fazendo coisas, fazendo sanduíches, colocado em lata, durava uma semana. E aí tinha festa no sábado, e aí durava mais uma semana para limpar, arrumar, guardar.
Uma festa de aniversário minha durava quinze dias, eu era feliz por quinze dias, porque era lembrado, comemorado, era festejado, hoje a festa de uma criança dura duas, três horas, que é o tempo em que se vai a um lugar estranhíssimo, chamado buffet infantil, que não é de ninguém, é um motel pedagógico, uma festa às dez, outras às catorze, outra às dezoito.
Não é a casa de ninguém, e eu vou embora, e dura duas, três horas, e lá se faz uma coisa incrível, para deixar as crianças felizes, olha que demência, se coloca um animador de criança, desde quando criança, precisa de animador? Se ela precisa, é porque ela está infeliz"
* Mario Sergio Cortella, nascido em Londrina/PR em 05/03/1954, filósofo e escritor, com Mestrado e Doutorado em Educação, professor-titular da PUC-SP, na qual atuou por 35 anos.